terça-feira, 18 de novembro de 2008

Análise do Uso de Blogs na Educação

SOBRE USO DE BLOGS NA EDUCAÇÃO

a partir de http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG76347-6014-456,00.html


O texto no endereço acima, inicia apresentando Mayara que passou interessar-se mais pela escola e suas notas melhoraram após uso da 'rede' em busca de informações, assim como, no relato da diretora, a freqüência escolar dos alunos aumentou; é bem provável que o uso desta ferramenta traga contribuições e influencie na vida escolar, entretanto, temos que avaliar com mais critérios, pois o modo como estas informações e dados foram apresentados, facilmente permite generalizações, afinal não temos uma leitura do grupo e ou da escola como um todo (estes dados não estão ofertados, vale analisar como se chegou aos mesmos, se isto ocorreu e em que circunstâncias). O computador e muitos de seus aplicativos são extremamente fascinantes aos alunos de modo geral, mas isto por si só não garante aprendizagem, e mais, de que conhecimento estamos tratando? Estamos tratando de informação ou de conhecimento, visto os dois não serem a mesma coisa, mas é muito comum ouvirmos referencias como sendo a mesma coisa.

A avaliação realizada pelo Instituto Ayrton Senna chegou a conclusão, que os alunos participantes da pesquisa melhoraram sua expressão escrita e verbal, assim como venceram a timidez e aumento da vontade de pesquisar, inclusive apresentando uma visão crítica do mundo. Bem, com tanto êxito, basta colocar computadores nas escolas e o problema educacional das estatísticas mudariam radicalmente, motivo de grandes congratulações aos governos, ongs e principalmente, as agências internacionais, as quais cobram medidas e alterações no quadro educacional e para onde são remetidos os índices... Com este horizonte azul, mesmo assim ficaria a pergunta: que visão crítica de mundo é esta? Fundada em que? Em reflexões com embasamento teórico em filosofia, sociologia entre outras, ou em meros achismos? Na "rede" há muita informação e dados de qualidade e seriedade, mas geralmente não são nestes os endereços que os alunos costumam consultar...

A linguagem coloquial pode aproximar indivíduos, mas jamais deverá ser a única e ou principal forma de linguagem, causaria assim uma redução no vocabulário, enfim, uma pobreza lingüística, sem falar que, o emprego da linguagem coloquial criaria um fosso cultural sequer permitindo acesso mínimo a um texto de linguagem acadêmica; isto sim, geraria uma exclusão ainda maior por parte dos milhares, que já se encontram marginalizados.

Ao se fazer a crítica a escola tradicional no que tange a copiar, repetir e decorar, vale lembrar que boa parte dos trabalhos de pesquisa extra classe na atualidade constitui-se numa verdadeira ritualização jesuítica, contudo, mudou a ferramenta: ontem o livro, hoje da rede, e com vantagens, é só dar um control c e um control v... Parece que neste quesito não avançamos, creio que retrocedemos. Ao professor não há necessidade de perder horas corrigindo provas e ou carregando pastas e mais pastas...pode até ser verdade, mas tenho que passar muitas e muitas horas frente a tela do computador. Mudou a forma de se ocupar, desocupados é que não ficamos, pois as cobranças aumentaram, principalmente as burocráticas.

Há a afirmação de que agora a aula não teria mais 45 minutos, sim e antes? Com os deveres e tarefas de casa, pesquisas, consultas... isto não integrava a aula? A ferramenta digital mantém o aluno mais tempo em atividade, e a aula ao ficar contínua atende perfeitamente a afirmação do filósofo francês Gilles Deleuze, quando diz que vivemos em tempos em que nada se termina e continuamente estamos começando coisas novas, ou ainda, que vivemos em tempos onde não há mais futuro e passado, o que necessariamente nos remete a viver intensamente o aqui e agora, pois só o presente que existe e que se altera a grande velocidade. Velocidade esta que me desterritorializa continuamente, o que me torna um peregrino das ondas eletromagnéticas, com grandes possibilidades de a curto prazo tornar-me um ambulante sem perspectivas e horizontes.

Vale lembrar que uma grande quantidade de indivíduos ainda não possuem acesso a um computador, o que torna-os totalmente excluídos de um mundo, de uma comunicação, de um código, de linguagens, etc... alguns dos muitos párias da modernidade, segundo Zygmunt Bauman. Podemos aqui fazer uma comparação com o final da Idade Média, em que surgiu o Colégio dos Jesuítas, com o aparecimento (enquanto uso) de um novo código de linguagem e comunicação – o alfabeto; um grande avanço que por si só eliminou a oralidade, bem como, execrou milhares da sociedade da época. Mudou o código, mas a realidade da exclusão, está só ficou mais sofisticado.

Atribuir plenos poderes a nova ferramenta visto "a repetência dos alunos da rede pública municipal praticamente zerou". Várias questões se levantam: 1) a causa da repetência praticamente zerar se deve unicamente a "criação dos blogs"? Não houveram outras medidas ou políticas públicas envolvidas? e ou, outros critérios foram empregados no processo avaliativo? Uma afirmação destas lançadas ao vento permite tantas leituras e ou construções discursivas, inclusive de que: "O Instituto Ayrton Senna atribui esse resultado à disseminação dos computadores e dos blogs.

A Tese de doutoramento de Guilherme Carlos Correa, defendida em 2004, pela PUC de São Paulo, sob o título de "EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA NO BRASIL", faz uma análise de como a educação é imprescindível no ocidente para assegurar o processo civilizatório, bem como, que a muito tempo estamos produzindo a nova subjetividade – "dividualidades" – da sociedade da informação. O computador é uma destas ferramentas que assegura aos "divíduos" seu papel e função social. Com Deleuze podemos ratificar a necessidade de produzir cabeças ocupadas mas sem conhecimentos, apenas um monte de dados e informações soltas; um indivíduo assim atende aos reclames da atualidade.

Não é uma questão de abandonar o computador e suas aplicações, mas analisarmos a realidade que nos cerca, que é muito complexa e de difícil acesso a dados significativos, pois facilmente nos remetem a dados periféricos. Fica o desafio de lermos mais e pesquisarmos o contexto da sociedade da informação; alguns autores: Gilles Deleuze, Paul Virilio, Guy Debord, Ivan Illich, entre outros...
















Um comentário:

Fernanda disse...

Olá Márcio...
Muito boa sua reflexão crítica acerca do texto publicado na Revista Época...
Também concordo que somente o uso de computadores e ferramentas tecnológica na escola possam mudar o cenário da educação atual. Precisamos sim como professores entender nossa mudança de postura de meros repassadores de informações para mediadores na construção do conhecimento utilizando estes aparatos. O Blog é uma ferramenta que pode-nos ajudar a começar a trilhar este caminho....

Abração!